Quinta-feira, 30 de Junho de 2005

GALIZA: FRAGA FOI-SE

xose_lois.jpg
publicado por António Luís Catarino às 00:05

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Sexta-feira, 3 de Junho de 2005

HOMO CONSOMATOR

Michelle Catarino.jpg
Le pouvoir d'achat est la licence d'acheter du pouvoir. L'ancien prolétariat vendait sa force de travail pour subsister ; son maigre temps de loisir, il le vivait tant bien que mal en discussion, querelles, jeux de bistrot et de l'amour, trimard, fêtes et émeutes. Le nouveau prolétariat vend sa force de travail pour consommer. Quand il ne cherche pas dans le travail forcé une promotion hiérarchique, le travailleur est invité à s'acheter des objets (voiture, cravate, culture...) qui l'indexeront sur l'échelle sociale. Voici le temps où l'idéologie de la consommation devient consommation d'idéologie. Que personne ne sous-estime les échanges Est-Ouest ! D'un côté, l'hommo consomator achète un litre de wisky et reçoit en prime le mensonge qui l'accompagne. De l'autre, l'homme communiste achète de l'idéologie et reçoit en prime un litre de vodka. Paradoxalement, les régimes soviétisés et les régimes capitalistes empruntent une voie commune, les premiers grâce à leur économie de production, les seconds par leur économie de consommation.

Raoul Vaneigem
publicado por António Luís Catarino às 00:26

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UM LIVRO - VOCAÇÃO ANIMAL E UMA (BIO)GRAFIA de Herberto Helder

herberto helder.jpg
Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica. Em 1946, com 16 anos, viaja para Lisboa para frequentar o 6º e o 7º ano do curso liceal. Em 1948, matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, muda para a Faculdade de Letras onde frequenta, durante três anos, o curso de Filologia Romântica, não tendo terminado o curso. Três anos mais tarde regressa a Lisboa, começando por trabalhar durante algum tempo na Caixa Geral de Depósitos e depois como angariador de publicidade, sendo que durante este tempo vive, por razões de ordem vária e pessoal, numa «casa de passe».

Em 1954, data da publicação do seu primeiro poema em Coimbra, regressa à Madeira onde trabalha como meteorologista, seguindo depois para a ilha de Porto Santo. Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos e redactor de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita. Durante os anos que se seguiram vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.

Repatriado em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional com redactor de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda nesse mesmo ano publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Em 1964 trabalha nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda Os Passos em Volta, escreve «Comunicação Académica» e publica Electronicolírica. Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia Experimental e no ano seguinte publica Húmus, Retrato em Movimento e Ofício Cantante. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio consegue obter suspensão de pena, facto este que não conseguiu evitar que fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário. Ainda nesse ano publica os livros Apresentação do Rosto, que foi suspenso pela censura, O Bebedor Nocturno e ainda Kodak e Cinco Canções Lacunares.

Em 1970 viaja por Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, publicando nesse ano a terceira edição de Os Passos em Volta e escreve Os Brancos Arquipélagos. Em 1971 desloca-se para Angola onde trabalha como redactor numa revista. Enquanto repórter de guerra é vítima de um grave desastre tendo que ser hospitalizado durante três meses. Data ainda desse ano a publicação de Vocação Animal e a produção de Antropofagias. Regressa a Lisboa e parte de novo, desta vez para os E.U.A., em 1973, ano durante o qual publica Poesia Toda, obra que contém toda a sua produção poética, e faz uma tentativa frustrada de publicar Prosa Toda. Em 1975 passa alguns meses na França e Inglaterra, regressando posteriormente a Lisboa onde trabalha na rádio e em revistas, meios restritos de sobrevivência económica. Em 1976, Herberto Helder participa na edição e organização da revista Nova que, sendo posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, reconhecia na Literatura portuguesa características que a aproximaram às Literaturas latino-americana, africana e espanhola, declinando uma direcção literária revolucionária cuja actividade não ultrapassou o plano teórico devido à instabilidade política portuguesa que se fazia sentir na altura. Nos anos que se seguiram publicou as obras Cobra, O Corpo, O Luxo, A Obra e Photomaton e Vox. A última referência encontrada da instabilidade biográfica de Herberto Helder referia-se ao facto de o poeta ter abandonado todas as suas anteriores actividades e de viver no mais cioso dos anonimatos.
publicado por António Luís Catarino às 00:05

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Quinta-feira, 2 de Junho de 2005

PRELIMINARES PARA UM JOGO DE GUERRA

genova.jpgGénova 1960

«Os políticos mentem, os jornais calam, as paredes falam».
Grafitti de Barcelona, Junho de 2001.

1.
Génova abriu caminho para a clarificação das lutas futuras contra o que se convencionou chamar de lutas anti-globalização. O capitalismo sempre foi internacional assumindo, cada vez mais, desde os anos setenta a sua verdadeira face. Cada vez mais letal, recorre à morte programada para expandir o que o levou a ser criado. A rapina dos recursos do planeta, o trabalho robotizado para milhões de seres humanos, a escravatura sem limites para biliões de homens e mulheres que vivem na periferia do seu centro. Alargou os seus tentáculos a áreas que, por pudor ou incapacidades subjectivas, nunca antes tinha tocado. Hoje, não se trata de combater a barbárie tão cara aos intelectuais dos anos sessenta mas, sim, a morte dos anos dois mil.

2.
O género humano corre um perigo iminente. Não se respira, não se come, não se vive. A dicotomia entre países pobres e ricos não tem sentido se os objectivos forem a integração molecular capitalista. Cair na imbecilidade de «dar» aos países pobres o que os ricos têm a mais é defender o espectáculo das trocas de mercadorias abandonadas em favor da morte programada pelos media mundiais dessas mesmas áreas de pirataria e de saque. Milhões de endividados e sobreviventes do Norte a quem o capitalismo fez acreditar serem ricos apoiam caridosamente a sorte aleatória das massas que ainda não o conhecem directamente.

3.
Desde Porto Alegre que vem sendo vendida a ideia de que existem globalizações «boas» e « más» (1). Reside aqui o vértice de toda a acção em torno das situações de manifestações programadas e integradas rapidamente por agentes políticos do estado. Em Portugal, os teóricos das esquerdas parlamentares não se cansam de o admitir. Se, desde Seattle, o silêncio mostrou a incapacidade evidente de entenderem o que quer que seja principalmente na radicalidade da destruição simbólica, a partir de Génova desdobraram-se em declarações que pretendem mostrar as «boas» causas das «boas» globalizações (2). Preferem, assim, numa conjuntura que se perfila claramente anti-capitalista, não tocar na ideia do mercado tornado espectacular. O valor de troca das mercadorias não é posto em causa, em detrimento do valor de uso das trocas produtivas. Preferem, na sua imbecilidade já histórica, lutarem por «um mundo melhor»! A miséria da filosofia no seu esplendor.

4.
A famosa expressão «direitos de cidadania» que abriu a Cimeira de Porto Alegre não é mais que um logro perigoso para quem acredita que o capitalismo pode ser autogerido em assembleias municipais ou por voto electrónico. Quando o patrão exige novidade o escravo honesto proclama, de imediato, a sua própria modernidade (3). Entretanto, os partidos de Porto Alegre começaram a limpeza da cidade multiplicando as agressões e ataques a alternativos, punks e okupas.

5.
Génova permitiu ver até que ponto a traição das esquerdas parlamentares chegou. A divisão entre pacifistas e violentos faz parte do jogo da polícia e do estado. Isolando uns, gradualiza-se e selecciona-se a vítima seguinte. Os militantes do PCP, presentes nas esplanadas de Génova, chegaram ao ponto de denunciar a falta de eficácia da polícia italiana contra as «provocações anarquistas» (4) e isto já depois de ter sido assassinado um manifestante. Já o Bloco de Esquerda fala na necessidade, «agora, mais que nunca» (?) de mostrarem e sublinharem perante os media que os ilumina o seu intrínseco pacifismo (5). Declarações já feitas depois do ataque ao centro do Indymedia. A miséria da praxis no seu esplendor.

6.
Juntam-se, portanto, aos editorialistas de estado que são comprados para exprimirem as suas opiniões, evidentemente livres. Corta-se na Net, censura-se a imprensa alternativa, acciona-se o Echleton, alugam-se dirigentes da esquerda e da direita para esclarecedores «debates» que não dizem coisa alguma (6). Transmitem o que lhes dizem os donos sem face. Para os mais incrédulos, recordem-se do atentado de Bolonha, a prisão de Negri ou o Plano Norte no Euskadi e o comprovado papel dos media conjugado com as secretas militares e perceberão com mais clareza ao ataques alarves contra alguns dos manifestantes. Mesmo aos mais pacifistas. A suspensão dos acordos de Shengen pelo fascista Berlusconi a fim de confinar os presos em campos de concentração e em estádios, mereceram destas meretrizes, umas poucas linhas, mas nem por isso de indignação.

7.
A violência auto-defensiva já vem muito antes de Seattle, Praga, Gotemburgo ou Barcelona. A insurreição de Los Angeles, o movimento zapatista e os 1º de Maio alternativos de Londres e Amesterdão mostraram o simbolismo da destruição dos fétiches capitalistas. A destruição existe porque não há mais nada a dizer. Principalmente porque a arte do argumento e do debate, tão cara aos salões burgueses modernos, se esgotou. Agora falam as armas e os corpos e o futuro dirá quais as reais dimensões dos Jogos de Guerra e das situações tornadas irreversíveis. As futuras acções de combate só podem ter sentido na destruição de um mundo que já não o é, porque destituído de toda a sua dimensão humana e ecológica. Não havendo nada a perder só nos resta expressarmo-nos com o hedonismo de uma vida realmente vivida e com a criação de jogos reais. Da deriva criadora de situações extraordinárias.

Notas
1) O mais notável e mediático vendedor desta farsa é Boaventura Sousa Santos que, em várias entrevistas chega mesmo a contrapor à expressão «Povo de Seattle» carregada, para ele, de demasiada radicalidade a de «Povo de Porto Alegre».
2) Neste mesmo saco, e sem quaisquer pruridos, entram Miguel Portas, Alexandre Melo, Vasco Graça Moura, Mário Soares e o inesquecível lambe-botas J. Manuel Fernandes, director do Público, com o seu já célebre «cheiram mal!» em referência aos manifestantes de Génova!
3) Cit. de Guy Debord.
4) Jornal de Notícias de 22/07/01 - «Ângelo Alves do CC do PCP(...) sustentou que, se quisesse, a polícia poderia ter controlado alguns grupos deixando os activistas pacíficos manifestarem-se livremente» e, mais à frente, queixa-se de que «houve mesmo militantes do PCP e da JCP que se sentiram mal porque o ar estava irrespirável»!!!
5) Jornal de Notícias de 22/07/01 - Jorge Costa, assessor de imprensa do BE, para além de afirmar que «agora, mais que nunca, o BE deve mostrar o seu pacifismo» presenciou algumas cargas policiais que obrigaram os alucinados militantes do BE a uma «corrida»! Luís Branco, do PSR, secundou-o em entrevista às TV's.
Diário de Notícias de 26/07/01 - Miguel Portas: «Em Génova morreu um formato - o do espectáculo do poder, isolaram-se os hooligans da contestação (sic) e afirmou-se uma cultura de inconformismo. Óptimo.» Berlusconi não diria melhor!
6) Diário de Notícias de 21/07/01 - Pierre Bourdieu, um sociólogo inútil e conhecido pelas suas posições anti-televisão (escreveu um livro intitulado« Sobre a Televisão») e recusando sistematicamente a sua presença nas televisões para debates, visto serem inconsequentes, desta vez fez umas queixinhas insuspeitas. Nesta entrevista afirmou: «Estou pessimista. Os protestos atraem a curiosidade de todos. E por isso fracassa qualquer tentativa de análise. A opinião pública só gosta de anarquistas, dos hooligans, dos extremistas de esquerda.» Ninguém liga ao homem?

27/07/2001
publicado por António Luís Catarino às 23:48

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